Coincidência


Na metade da década dos anos oitenta eu passei pouco mais de um ano em Brasília e nesse intervalo de tempo passei um mês na casa de um tio meu em uma cidade do interior do Estado de Goiás, nas proximidades do Distrito Federal. No final da tarde, como não tinha muito o que fazer, eu assistia um programa de TV local, que defendia com unhas e dentes a prefeita da cidade na época e atacava os adversários sem piedade e sem noção entre o real e o ilusório. O apresentador aparecia muitas vezes com uma espécie de máscara, o porque não conseguí entender e nem sei explicar. Uma das pessoas atacada e difamada diariamente, resolveu publicar um artigo em forma de poesia, descrevendo o apresentador. Organizando minha pasta onde guardo meus documentos pessoais e algumas lembranças do passado, encontrei o artigo que segue abaixo:

Todos os finais de tarde
Na televisão local
Se apresenta um apresentador
Na  maior cara de pau
Ataca cidadão de bem
E defende quem é do mau

Por ele tenho sido difamado
Que a mim dirigi agravo
Ele se apresenta encaretado
Parecendo um boi bravo

O homem é o cúmulo do ridículo
Usa uma calça volta ao mundo
As suas vestes deve a outro pertencer
Da logo pra perceber que era maior o defunto
O cinto tem excesso lateral passando da medida
Mais aqui deixo bem claro NADA CONTRA a sua vida

A gravata da pra perceber
Que não pertence ao engravatado
Passando da medida correta
Parece a língua de um cachorro cansado

O homem envergonha seus professores todo dia
Rasgando a gramática quando vai falar
E pra tentar cobrir os erros
Ele diz que fala a língua popular

No programa bebe água em uma cuia
Faz uma zuada danada
Pra dizer que do interior
Querendo enganar a caboclada
Mas ele nunca pegou
No cabo de um foice ou de uma enxada

NADA CONTRA o cidadão
Que tenta o povo enganar
Mas esse é o trabalho dele
Não ganha se não babar
Ao invés de beber na cuia
Babador devia usar

Tenta cobrir as mazelas
Que existe nessa cidade
Tenta culpar quem não tem culpa
Sempre esconde a verdade
Se ele não escondesse a cara
Dava pra ver a falsidade

Se apresenta como um homem sério
Como um homem trabalhador
Mas gosta de uma bagunça
Atirar até já atirou
Tudo culpa de uma cachacinha
Que ele sempre gostou

O programa é enjoado
Mas não tem outro pra assistir
Até gosto de ver
Ele sempre falando de mim
Tá aumentando meu ibope
E minha credibilidade
Porque o povo me conhece
E tá sabendo a verdade

Sigo ouvindo calado
Sigo sem nada falar
Mas a hora da resposta
Está perto de chegar
Enquanto a bendita hora não chega
Deixa o coitado falar.

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