O Trem e o Rio (Jocimar Pereira)
O trem barulhento
Vive a me incomodar
O rio silencioso
Nem percebo passar
O trem sobe e desce
O progresso levando
E nesse levar do progresso
O trem vai me incomodando
Tem momentos que o trem
Na sua infinidade de vagão
Divide toda a cidade
Efeito mão e contramão
Quem tá de um lado não passa
Para outro não pode passar
E o trem parado porque?
Só mesmo pra atrapalhar?
E o rio descendo silencioso
Sem ninguém aproveitar
Enquanto em outros lugares
O povo por água a gritar
E o rio descendo silencioso
Fazendo psiu pra calar
Aquele que do sono da tarde
Quer me fazer acordar
E lá vem a buzina do trem
Pense num trem barulhento
Chão tremendo, telhas descendo
Quem mora perto sofrendo
A ambulância não pode passar
O trem parado está
Esperando por quem?
Quem espera este trem?
E o rio vai passando
Silencioso o trem vai olhando
E sorrindo de nós
O Rio, de bobo chamando
Este trem que está aí parado
Povo que suporta calado
Só vai trocar de maquinista
Para seguir na sua pista
E o rio segue sorrindo
Por a cidade não usar
O maior tesouro que tem
O bem mais precioso que há
Onde há água há vida
E nada vive a perturbar
Mais porque esse trem
Não procurou outro lugar
Tá na hora das autoridades
Uma decisão tomar
E proibir o danado do trem
De nosso povo perturbar
Deixar de parar no centro
A travessia do povo fechar
Parar antes do Mocó
Frear antes do Marajá
Troca de maquinista e vai passando
Tentando não incomodar
Porque já estamos de saco cheio
Com esse muro a separar
Muro de ferro ao meio
Nossa cidade dividindo
De idosos, crianças, doentes
A passagem impedindo
E o rio silencioso descendo
Sem a ninguém incomodar
Nessa misteriosa passagem
Que nunca vai acabar
Que Deus permita que o rio
Por aqui nunca deixe de passar
Pois isso só vai acontecer
Se um dia ele secar
Que o trem continue
Também a sua viagem
Mas que não incomode tanto
Impedido nossa passagem
Já que ninguém reclamou
A minha arte resolvi usar
Para mais forte que a buzina
Do trem meu grito ecoar
Gritemos juntos ao trem
Pare de nos incomodar
Junte seu grito ao grito
Do Poeta Jocimar.
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