Partida pra São Paulo - Corte de Cana (Jocimar Pereira)


Ta chegando o dia
Tá chegando a hora da partida
Tô indo pra São Paulo
Vou ao Corte de Cana
Tentar melhorar a vida

Parto amanhã
Mas a saudade parti meu peito
Já comprei a passagem
Agora não tem mais jeito

Minha mãe tenta esconder a tristeza
Mas ela está estampada em seu olhar
O coração de meu pai está triste
Mas sabe que ficar por aqui não dá

Minha esposa já até chora
Não consegue a lágrima conter
Seu coração partido interroga
Perguntando quando volta a me ver

Meu filho ainda nem sabe falar
Mas parece sentir
Que longe de mim vai ficar
Seu inocente abraço me da coragem
Pra esta batalha enfrentar

O dia amanhaceu
Durante toda a noite não consegui dormir
“Abença”  Pai “abença”  Mãe
Chegou a hora de partir

Abraço e beijo na esposa
A emoção não consegui controlar
Abraço e beijo no filho
Meu coração aqui vai ficar

Entrei no ônibus e sentei
Eita que hora "duida"
O motorista liga o motor
Parto em busca de uma nova vida

Neste momento me desligo da saudade
Que aperta, sufoca, invade meu coração
Me ligo no meu destino
Estou indo pra São Paulo, Cidade de Ribeirão

Como será por lá?
Como vão me receber?
Como é esse trabalho?
Ainda não sei direito o que vou fazer
E o ônibus rompendo estrada
Sem ninguém pra responder

Olho a minha volta e vejo
Outros em pensamentos perdidos
Os semblantes são os mesmos
Os corações estão aflitos
Todos sonhando em tudo melhorar
Já imaginando um dia voltar
Pra nossa terra, nosso lugar

O ônibus segue cortando estrada
Bate saudade do filho e da amada
O ônibus segue cortando chão
Bate mais forte meu coração
Chegamos a Ribeirão
Olho em volta sozinho
E o sentimento agora é solidão

Imediatamente já sou contratado
Recebo material pra trabalhar
Roupas, instrumentos de proteção
E uma grande caneta, em forma de facão

Partimos pra frente de trabalho
Tudo começa, o trabalho é pesado
À noite quase não dormi
Meu corpo parecia estar todo quebrado
Mas estava decidido a trabalhar
E aquela batalha ganhar

Saudade, tristeza
Cansaço, solidão
Sentimentos muito fortes
Atormentando meu coração
Mas vou indo bem, não reclamo
Um dia volto, para o lado de quem amo

Primeiro pagamento, que alegria
O retorno de um grande esforço
Primeiro pagamento, que felicidade
Coloquei dinheiro no bolso

Mandei metade pra mulher
Pagou nossas contas com alegria
Por telefone matamos um pouco da saudade
Nesse momento de euforia

A outra metade fiquei
Metade dela guardei
Dessa metade que me sobrou
Suprir minhas necessidades eu vou
Um pouco metade da metade vou economizar
Pra junto com a outra metade guardar

E assim fui fazendo ao longo dos meses que se seguia
Pagando o que devia e guardando o que podia
Sonhando um dia voltar, minha esposa abraçar
Sentir meu pai e minha mãe me abençoar
E a saudade do meu querido filho matar

Já estava próximo a volta
Um ano ia se completar
Pensei na volta triunfal
E a vaidade me fez uma moto comprar
Alegre e feliz cheguei
À minha terra voltei
Tudo como pensei

Depois de matar a saudade
Peguei a moto fui dar um volta na cidade
Com um amigo de Ribeirão encontrei
Junto com ele uma bebedeira comecei
Que horas fui chegar em casa não sei

E assim permaneci por vários dias
Minha mulher a brigar, meus pais a sofrer, meu filho a chorar
Todos me davam conselhos
E eu sem querer escutar
Estava alegre e empolgado
Só pensava em comemorar

Certo dia depois de uma bebedeira
Eu e o amigo em uma tremenda carreira
A moto com um poste choquei
Depois o que aconteceu eu não sei
Cinco dias depois do acidente
Em um hospital acordei

O médico me disse que sorte rapaz
Isso é o que a imprudência faz
Você ainda vai poder andar
E o seu amigo?
Que nem a historia pode contar!

Nesse momento o mundo desabou
Pra realidade eu acordei
Perdi meu amigo, um irmão
Por irresponsabilidade matei

Por não ouvir minha mãe
A minha vida mudei
A moto pra nada prestou
As economias no meu tratamento a mulher gastou

Pra estaca zero voltei
O que fazer da vida não sei
Ah se o passado voltar eu pudesse
Mas quando a cabeça não pensa
O corpo é que padece

Se tivesse montado meu negocio
Como eu havia imaginado
Se tivesse investido meu dinheiro
Como eu havia pensado
Nada disso teria acontecido
Eu seria um homem realizado

Já pensei e não encontro solução
É triste aceitar mais essa é a decisão
Vou fazer tudo novamente, vai sofrer meu coração
No início do mês que vem
Vou voltar pra Ribeirão

E se Deus me abençoar
Se a minha estrela brilhar novamente
Dessa vez vai ser diferente
Eu aprendi a lição
No início do mês que vem
Vou voltar pra Ribeirão

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